Opções exóticas, Selic & Copom: como ganhar dinheiro com base no que o Banco Central vai fazer
Exótico: adjetivo Que não é comum; que expressa extravagância ou excentricidade: animal exótico. Não natural; que não nasceu no país nem na região onde habita; estrangeiro, importado: vegetação exótica. Etimologia (origem da palavra exótico).
Você achava que só existiam opções de compra e de venda não é mesmo? Calls e Puts ali em cima de ações, no máximo uma call/put de BOVA (que é um ETF de índice). Achou errado, caro leitor. O mundo das opções é muito, mas muito mais vasto do que isso. E a porta de entrada desse mundo são as chamadas opções exóticas.
Opções Exóticas é um termo do mercado que designa uma categoria de contratos derivativos diferentes das opções tradicionais, seja em seus pagamentos, prazos de vencimentos ou preços de exercício.
Em outras palavras, Opções Exóticas agrupam uma série de opções muito diferentes das tradicionais calls e puts, com estrutura mais sofisticada e completamente não convencional. Existem vários tipos de opções exóticas, por exemplo:
Opções com barreira (derivativo que tem seu pagamento dependente do ativo cumprir ou exceder um valor pré-determinado, também conhecidas como knock-in e knock-out)
Opções asiáticas (cujo strike é definido não por um valor específico, mas por um preço médio ao longo de um período)
Opções Binárias - derivativos artificiais criados por empresas estrangeiras que se baseiam na ocorrência de um evento de forma binária (sim ou não)
Opções de Bermudas - opções que tem o exercício em algumas datas específicas, uma espécie de combinação entre opções americanas e europeias
Hoje vamos tratar aqui de uma opção exótica não quanto ao seu tipo - pois elas são europeias, assim como as puts, ou seja, só podem ser exercidas no dia do vencimento - mas quanto ao seu ativo objeto. Essas opções não estão atreladas a nenhuma ação ou índice, mas ao resultado de um evento: a reunião do Copom e a definição da taxa Selic decidida nessa reunião. Os mais desavisados podem estar se perguntando “mas o que é esse tal de Copom?”
O tão falado Copom - Comitê de Política Monetária
O Copom é a abreviação de Comitê de Política Monetária, um conselho composto pelos membros da Diretoria do Banco Central do Brasil (Bacen), que faz oito reuniões ao longo do ano.
Entre as funções do Copom, estão:
A implementação da política monetária do governo;
Analisar os relatórios de inflação do país;
Definir a meta da Taxa Selic (chamada Taxa Selic meta). Essa aqui é justamente o objeto da nossa opção em questão nesse artigo;
O operacional e o funcionamento das opções de Copom
Nesse tipo de opção, estamos especulando em cima de qual vai ser o resultado da Selic após a reunião do Comitê.
O prêmio dessas opções varia numa escala de 0 a 100 pontos. Cada ponto equivale a R$100,00, e cada strike (série) equivale a um cenário. Na prática, cada ponto representa um % da Taxa fechar daquela forma. Ou seja, um contrato precificado a R$52 significa 52% de chance de aquele ser o resultado da Selic após a reunião.
O payoff é do tipo cash or nothing, no qual apenas quem acerta o valor correto recebe o prêmio, enquanto os outros têm seu investimento zerado. Ou seja, o vencedor leva tudo, o perdedor sai de mão abanando, como dizia meu pai. Em outras palavras, logo no dia seguinte da reunião do Copom, o contrato que “acertou” o que aconteceu com a Selic passará a valer R$ 100,00, enquanto todos os outros contratos referentes àquela reunião virarão pó (ou zero reais). Seu exercício é automático no dia do vencimento (dia seguinte à reunião do Copom), e negociações podem ser feitas até o dia útil anterior à data de vencimento (ou seja, no próprio dia da reunião do conselho).
Sobre o lote - atenção ao sizing para não fazer besteira
Cada 1 unidade é negociada em lotes de 100 contratos. Usando os mesmos números do exemplo acima, se você comprar 1 unidade de uma opção de Copom que está valendo R$ 80,00, terá que desembolsar R$ 8.000 (R$ 80 por opção x 100 contratos).
Se o Copom fizer o que essa opção está precificando, ela passará a valer R$ 100,00 no dia seguinte da decisão – ou seja, seus R$ 8.000,00 virarão R$ 10.000,00 (a conta não considera os custos operacionais e o imposto de renda, que é de 15% sobre o lucro da operação). Caso aconteça qualquer outro cenário, todo seu capital investido virará pó – você perde R$ 8.000.
Encontrando a opção desejada - montagem do ticker
Cada contrato tem 13 caracteres que englobam letras e números na sua composição.
Ex: CPMQ23C101500
CPM = nome da opção.
Q= mês da reunião de acordo com a linguagem da B3. As letras são as mesmas que as usadas nos contratos futuros (este caso, agosto).
23 = ano da reunião.
C = tipo da reunião (C para ordinária, P para extraordinária*).
101500 = os 6 últimos números vão indicar qual é a “aposta” desta opção para a decisão do Copom. Os números partem de 100000 (cem mil), onde 100000 indica “manutenção da Selic”, e qualquer número acima ou abaixo disso sinaliza alta ou queda da Selic. No exemplo acima (101500), o contrato indica alta de 150 pontos-base, ou seja 1,5%. (cada 1 ponto-base = 0,01%)
A opção que sinaliza alta de 50 pontos-base (0,5%) teria no final 100500, enquanto um contrato que indica queda de .25 bps (-0,25%) teria no final 099750.
OK, entendido, mas como eu faço para ganhar dinheiro com isso, Fernando? Vamos à prática então, mas antes de mais nada, se inscreve aí na newsletter, beleza?
Partindo para a prática, em outras palavras, o que ninguém te ensina
Esse é o Estado da Arte das opções de Copom mais prováveis para essa reunião de Agosto. Vamos destrinchar cada cenário, com base nos preços:
Lembrando que já explicamos lá em cima. O cenário vencedor vai ter a opção valendo R$100 no dia seguinte. Qualquer outro, vai pra zero.
Sendo assim, temos, segundo os preços acima (e lembrando que tudo pode mudar até o dia da reunião):
Manutenção da Selic como está (13.75%) - R$1,50
Corte de 0,25% - R$42,00
Corte de 0,5% - R$56,00
Corte de 0,75% - R$1,80
Traduzindo em bom português: os cenários mais prováveis são corte de 0,25% ou 0,5% (com 42% e 56% de chance, respectivamente). Essas opções tem payoff de 1:2, arredondando, dado que podem virar R$100 no dia do vencimento. Já as opções mais improváveis, que representam corte maior (0,75%) ou manutenção da Selic (probabilidades 1,8% e 1,5%, respectivamente) têm payoffs bem maiores, da ordem de 1:50. Estamos falando de menos de 2 reais se transformarem em 100 reais. Uma multiplicação de mais de 50 vezes.
Essa é a forma como são lidas as opções de Copom. Arriscado não é mesmo? Por isso o payoff é tão alto. Eu, particularmente, não gosto desse tipo de derivativo “binário”, ou seja, tudo ou nada… óbvio que as opções podem ser negociadas ao longo do tempo (ainda que o exercício seja só no vencimento), e seus movimentos de preço refletem o humor e as expectativas do mercado quanto à Selic. Só de ver o que eu escrevi acima você já sabe que a maioria do mercado espera ver um corte de 0,5% da Selic agora em agosto, dado que essa é a opção mais cara de todas (56 reais). Contudo, essas negociações precisam acontecer via Mesa, com taxa de mesa e corretagem, o que é sempre um empecilho maior.
Agora me conta: você já tinha ouvido falar desse tipo de opção diferente do convencional? Já se aventurou operando esse tipo de ativo? Se não, acredito que esse texto tenha te ajudado, ou pelo menos te provocado, a conhecer algo novo. Vou subir um vídeo lá no Youtube (clica aí pra se inscrever) explicando isso melhor e depois um módulo inteiro sobre Opções Exóticas dentro do Muito Além do Básico (o treinamento completo de opções). Fica aqui o convite pra você conhecer ;)
Nos vemos no próximo texto, uma ótima semana e bons trades!
Muito bom texto. Tenho certeza que essa estratégia fica melhor nas mãos de fundos de investimento, mas é bem legal conhecer os mecanismos. Me fez até instalar esse app